Em tempos onde cobramos a autocrítica de partidos, pessoas, políticos e empresas, nunca foi tão urgente a autocrítica da imprensa brasileira.
Todos os veículos, sem exceção. Infelizmente, a generalização se faz necessária.
Não só porque maioria das redações aderiram ao execrável jornalismo declaratório mas também pela irresponsabilidade na cobertura da vacinação ao redor do mundo.
São inúmeros os exemplos de manchetes e títulos com o objetivo de caçar cliques e que espalham dúvidas e receios em cada relato de efeito adverso das vacinas contra a covid-19.
Na dúvida, vamos aos números, eles não mentem: a vacina da Pfizer possui 95% de eficácia, significa que para 5% das pessoas ela não será eficaz. 240 pessoas em 1 milhão é 0,024% de contágio. Muito abaixo dos 5%. Infelizmente a matéria não possui essa informação básica, um esclarecimento que quem se propõe a informar, deveria fazer.
Outras manchetes também não ajudam e ainda viram panfletos antivacinação poderosíssimos.
Em um país onde maioria das pessoas nas classes mais baixas, por exemplo, só têm acesso à internet pelo celular, é comum as pessoas contratarem planos com uso livre de aplicativos e mensageiros como o Whastpp e redes sociais, mas que possuem limitação ou cobrança adicional na hora de acessarem sites.
Logo, quando o usuário vê a notícia : “Homem morre de ataque cardíaco após receber a vacina contra Covid-19”, ele não verá a linha fina que diz: “análise preliminar não revelou qualquer ligação com o imunizante da Pfizer, afirmou o Ministério da Saúde de Israel”. E o estrago está feito
Dados de 2019 do Cetic.br (Centro Regional para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) mostram o celular é o principal dispositivo para acessar a Internet. A pesquisa ainda aponta que 58% dos brasileiros acessam a rede exclusivamente pelo telefone móvel, proporção que chega a 85% nas classes mais baixas.
Com isso, argumentações mentirosas e tendenciosas acabam sendo “oficializadas” por grandes veículos de imprensa.
E isso não é só para as notícias relacionadas com a pandemia ou sobre o coronavírus. Mentiras e afirmações equivocadas e até desonestas na política também levam vantagem nesse jogo. No dia 7 de novembro de 2020, a seguinte manchete tomou os jornais do país: “Bolsonaro diz que bastecimento de água foi normalizado e hospitais estão com energia”, o texto penas relatava a declaração do presidente, sem qualquer contraponto ou apuração feita.
No dia 14, o jornal O Globo noticiou: “Apagão no Amapá: com falta de água potável, aumentam casos de crianças com vômitos e diarreia”.
No dia 23 do mesmo mês, a revista Carta Capital publicou: ‘Quando não falta luz, falta água’. O relato de moradores do Amapá.
Em alguns casos a declaração do presidente até veio com um contraponto no corpo do texto, mas aí o leitor era impedido de chegar até lá por conta de um paywall.
Então vejam só o caminho que o leitor precisa fazer até chegar em uma informação correta: ele precisa ter um pacote de dados, se tiver um pacote de dados, ainda precisa ter uma assinatura de determinado veículo e ainda assim, talvez ainda seja necessário pesquisar a informação em outros locais pois a notícia não foi dada com um contexto mais amplo e completo.
A desinformação promovida por grandes veículos é ainda mais gritante quando comparamos a mesma situação com outros veículos mais responsáveis:
Outro exemplo é a manchete “Médico italiano vacinado contra Covid há 6 dias testa positivo”, passou pela timeline, se por algum motivo ela não abrir a notícia toda, ficou a informação de que a vacina não é eficaz.
Infelizmente, o comportamento caça-cliques, corriqueiro em pequenos sites e blogs de notícias falsas ou tendenciosas (como o Terça Livre), também tomou conta de grandes redações que deveriam ter responsabilidade com a qualidade das informações que publicam.
Aproveitando o ensejo….
Aqui na Fonte BR, trabalhamos muito para entregar para vocês informações de qualidade amparadas unicamente na realidade dos fatos. Que tal apoiar o jornalismo independente que fazemos para você?
Clique aqui e seja um assinante. Fortaleça o bom jornalismo.

Pingback: Editorial | A esquerda não quer vencer a batalha da comunicação | Fonte [BR] - A embaixada das notícias